No dia 21 de outubro, as taxas Euribor registaram uma nova descida em todos os prazos, refletindo a recente decisão do Banco Central Europeu (BCE) de cortar as taxas de juro no dia 17 de outubro. A taxa a três meses recuou para 3,138%, enquanto a taxa a doze meses desceu para 2,630%. O destaque vai para a taxa a seis meses, que é amplamente utilizada nos empréstimos à habitação em Portugal, e que caiu para 2,972%, um valor abaixo dos 3% pela primeira vez desde março de 2023.

Decisão do BCE: Um Sinal de Alívio?

Esta queda generalizada nas taxas Euribor surge na sequência da decisão do BCE de cortar as taxas de juro em 25 pontos base (0,25 pontos percentuais) durante a sua reunião de 17 de outubro, em Liubliana, Eslovénia. Esta foi a terceira vez este ano que o BCE reduziu as suas taxas de referência, sendo também a segunda descida consecutiva. Atualmente, a principal taxa de depósito está fixada em 3,25%, depois de ter sido reduzida de 3,5% no corte anterior, realizado em setembro.

As razões por detrás desta política de cortes de juros estão ligadas ao abrandamento das pressões inflacionistas, com a taxa de inflação a aproximar-se do objetivo de 2% estipulado pelo BCE. Além disso, a atividade económica da Zona Euro mostrou-se mais frágil do que o previsto, levantando preocupações em Frankfurt e forçando o BCE a adotar uma abordagem mais cautelosa e flexível nas suas decisões de política monetária.

O Abrandamento da Inflação e o Impacto na Economia

A inflação, que nos últimos dois anos esteve persistentemente acima das metas do BCE, parece agora estar a recuar de forma sustentada. Mário Centeno, governador do Banco de Portugal e membro do conselho de governadores do BCE, chegou a declarar recentemente que "a inflação foi, de facto, vencida". Apesar de alguns membros do BCE preferirem uma abordagem mais prudente, a desaceleração do crescimento económico da Zona Euro tem levado o banco central a adotar medidas para evitar uma recessão prolongada.

Este alívio nas pressões inflacionistas é bem-vindo, mas surge num contexto de enfraquecimento económico, com vários indicadores a apontarem para uma desaceleração da atividade industrial e do consumo na região. A redução das taxas de juro é, assim, vista como uma tentativa de estimular a economia e, ao mesmo tempo, garantir que a inflação se mantém controlada. A próxima reunião do BCE, agendada para 12 de dezembro, poderá trazer novas indicações sobre o rumo da política monetária em 2024.

Queda das Euribor: O Que Significa Para as Famílias Portuguesas?

Para as famílias portuguesas, a descida das Euribor tem um impacto direto nas prestações mensais dos créditos à habitação. Em Portugal, cerca de 90% dos contratos de crédito à habitação têm taxa variável, o que significa que as prestações estão diretamente ligadas à evolução das Euribor. Com a taxa a seis meses a descer para menos de 3%, algo que não acontecia desde março de 2023, as famílias poderão sentir algum alívio nos seus orçamentos.

Nos últimos dois anos, o aumento das Euribor para máximos de 15 anos foi uma dor de cabeça para muitos portugueses, com as prestações das casas a subirem consideravelmente. Agora, com as taxas a inverterem a tendência de alta, as famílias que “passaram as passas do Algarve” podem esperar uma redução progressiva das suas mensalidades nos próximos meses. Esta descida é particularmente relevante num momento em que os rendimentos das famílias têm sido pressionados pela inflação elevada e pelo aumento do custo de vida.

Projeções Futuras: Euribor a Três Meses Abaixo dos 3%?

A perspetiva de que a Euribor a três meses poderá continuar a baixar até ao final do ano está a ganhar força no mercado financeiro. Os contratos forward, instrumentos financeiros que permitem antecipar a evolução das taxas Euribor, sugerem que a taxa a três meses poderá descer abaixo dos 3% em dezembro de 2024. Além disso, as previsões apontam para que esta taxa se mantenha entre os 1,8% e 2,5% até ao final da década.

Este cenário pode representar uma nova realidade para os créditos à habitação, permitindo às famílias uma maior previsibilidade e alívio nas suas despesas. No entanto, esta tendência de descida das taxas Euribor está, em grande parte, dependente da evolução da economia global e da inflação. A continuidade desta política mais expansionista do BCE será fundamental para que as taxas de juro se mantenham em níveis baixos nos próximos anos.

Uma Recuperação Lenta, Mas Cautelosa

Apesar dos cortes nas taxas de juro, o BCE mantém-se cauteloso face aos desafios que a economia da Zona Euro ainda enfrenta. A desaceleração do crescimento económico, combinada com as incertezas globais, como a guerra na Ucrânia e as tensões comerciais internacionais, continuam a ser fatores de risco. Ainda assim, o BCE tem deixado claro que a sua prioridade é garantir a estabilidade de preços, com o objetivo de alcançar uma inflação de 2%, enquanto tenta também evitar uma recessão prolongada.

Conclusão: Um Alívio Esperado para os Portugueses

A descida das Euribor surge como uma boa notícia para as famílias portuguesas, que enfrentaram meses difíceis com o aumento das prestações dos créditos à habitação. A combinação de um abrandamento da inflação e de uma política monetária mais flexível por parte do BCE promete aliviar a pressão financeira sobre muitas famílias. No entanto, o futuro ainda permanece incerto, e a evolução da economia global poderá ditar se este alívio será duradouro ou temporário.

Com a próxima reunião do BCE marcada para dezembro, os mercados estarão atentos a novas indicações sobre o rumo da política monetária em 2024. Para já, as famílias podem contar com uma redução gradual das suas prestações, num cenário que, para muitos, já era aguardado com grande expectativa.